Camilo Pessanha

 Camilo Pessanha

Viola chinesa- Camilo Pessanha


Viola chinesa

Ao longo da viola morosa

Vai adormecendo a parlenda,

Sem que, amadornado, eu atenda

A lengalenga fastidiosa.


Sem que o meu coração se prenda,

Enquanto, nasal, minuciosa,

Ao longo da viola morosa,

Vai adormecendo a parlenda.


Mas que cicatriz melindrosa

Há nele, que essa viola ofenda

E faz que as asitas distenda

Numa agitação dolorosa?


Ao longo da viola, morosa...

A obra de Camilo Pessanha é marcada pela visão desencantada da vida, um sentimento de perda constante .No poema Viola Chinesa”, esse tom é frequentemente presente na sugestão de algo passageiro e delicado, que é ao mesmo belo e inatingível. 

A musicalidade da própria “viola” é um símbolo do desejo de eternidade, mas também da inevitável passagem do tempo.

A comparação com “Vaga, no azul amplo solta”, outro poema de Pessanha, revela essa busca por algo transcendente, que se pode considerar uma vaga no mar. 

Em ambos, há uma tentativa de alcançar uma beleza sublime, que se desfaz no momento em que se tenta tocá-la, sugerindo uma constante frustração e a inevitabilidade do declínio( por mais que o sujeito tente, não alcança o que deseja o que lhe causa frustração). 

“Viola chinesa” pode ser entendida como um emblema da tentativa de eternizar um sentimento que é, por natureza, passageiro e frágil.

A referência ao instrumento musical oriental sugere um som suave e delicado, uma metáfora para sentimentos que não podem ser plenamente expressos em palavras.

Como em outros poemas, como “Clepsidra” e “Esfinge”, a obra reflete a efemeridade(que dura pouco tempo) e a frustração com a passagem do tempo.

“Viola Chinesa”, o poeta faz uso de imagens que sugerem uma atmosfera distante, quase irreal, como se evocasse um sonho ou um devaneio. A referência à cultura chinesa não é apenas exótica; ela carrega um sentido de alteridade e distanciamento, uma tentativa de captar uma essência que está além do alcance do entendimento racional.

No poema “Viola Chinesa”, Camilo Pessanha usa recursos expressivos como:

1. Musicalidade e Ritmo: Aliterações e assonâncias que  criam um ritmo suave e fluido, relembrando o som delicado de uma viola.

2. Metáfora: A “viola chinesa” simboliza algo delicado e efêmero, sugerindo a expressão de sentimentos profundos e intangíveis.

3. Repetição: O uso de repetições reforça a cadência( tentação) melancólica e a sensação de lamento e nostalgia.









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